A 2ÂȘ Vara do Trabalho de Itapecerica da Serra-SP declarou nulo contrato intermitente de profissional admitida por empresa prestadora de serviços (EPS-1ÂȘ ré) para atuar na educação especial pĂșblica. Para a juĂza Thereza Christina Nahas, a educação é atividade contĂnua e essencial, que não admite esse tipo de contratação. A Fazenda PĂșblica Estadual (2ÂȘ ré) foi condenada subsidiariamente a arcar com todos os direitos trabalhistas previstos em um contrato por prazo indeterminado.
Nos autos, a mulher alega que trabalhou por quase dois anos como cuidadora, com violação de direitos ligados a piso salarial, vale-refeição, intervalo intrajornada, sendo dispensada sem receber as verbas rescisórias. A empregadora, por sua vez, defendeu a licitude da contratação intermitente, afirmando que a trabalhadora fora admitida para receber por hora e que as convocações eram feitas regularmente.
Na decisão, a magistrada lembrou que a Lei 6.019/74, embora autorize regimes de contrato de qualquer natureza, em casos de subcontratação, deve ser considerada atividade da tomadora, e não da EPS. Para ela, o fato de não haver expediente em alguns perĂodos do ano, por férias e feriados, "não significa que a autora seria dispensĂĄvel nos meses ou dias nos quais hĂĄ suspensão de atividades". Isso porque o trabalho da profissional destina-se à regularidade do curso escolar e não guarda qualquer grau de intermitĂȘncia.
"A imprudĂȘncia das rés na contratação de mão de obra intermitente em atividade nitidamente de carĂĄter não intermitente, não somente ofende o direito da trabalhadora, mas vai mais além para colocar em risco direito da educação garantido a todos. Isto quer dizer que, um Ășnico ato, acaba por violar dois direitos fundamentais, assegurados pelo artigo 26 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, isto é, direito a educação e direitos sociais (ao trabalho decente)", afirmou.
No entendimento da julgadora, o contrato intermitente foi utilizado para aprofundar a precarização das relações trabalhistas e a Fazenda PĂșblica agiu de forma negligente ao admitir essa espécie de contratação e não fiscalizĂĄ-la. Por isso, o cabimento da responsabilidade subsidiĂĄria. A magistrada também pontuou o baixo capital social da empresa (R$ 200 mil) em relação ao contrato firmado com o Estado (R$ 17 milhões), o que levanta dĂșvidas sobre a capacidade financeira de honrar o ajuste.
Por fim, foi determinada expedição de ofĂcios ao Ministério PĂșblico Estadual, Tribunal de Contas do Estado de São Paulo e Ministério PĂșblico do Trabalho a fim de se adotar providĂȘncias cabĂveis.
Cabe recurso.