Amazonas: governador se torna réu por desvio de recursos na pandemia

Por Redação em 20/09/2021 às 22:47:45

Por unanimidade, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) aceitou hoje (20) denĂșncia apresentada pela Procuradoria-Geral da RepĂșblica (PGR) contra o governador do Amazonas Wilson Lima, e mais 13 pessoas. Com a decisão, todos passam à condição de réus e vão responder a um processo criminal.

Wilson Lima é acusado pela PGR de chefiar uma suposta organização criminosa, da qual participaram os demais denunciados, responsĂĄvel por desviar recursos na compra de respiradores durante a pandemia de covid-19. Ele também foi acusado de fraudes em licitação e peculato.

O colegiado seguiu voto proferido pelo relator, ministro Francisco Falcão. Durante a leitura do voto, Falcão afirmou que documentos encontrados no gabinete do governador indicam que ele tinha conhecimento do processo de aquisição fraudulenta de 28 respiradores vendidos ao governo estadual por uma importadora de vinhos, com dispensa de licitação.

Outro indĂ­cio de envolvimento do governador seria o fato de ele ter ido pessoalmente ao aeroporto receber, em 7 de abril do ano passado, 19 desses equipamentos, sendo que a compra somente foi efetivada pelo governo estadual no dia seguinte.

Falcão afirmou ainda que "existe justa causa para se considerar o governador do Amazonas partĂ­cipe nos delitos de dispensa de licitação e partĂ­cipe da fraude na aquisição de 28 respiradores que tiveram preços elevados com abusividade".

O relator também afirmou considerar que "o governador exercia o comando da organização criminosa engendrada na cĂșpula do governo do Amazonas, que visava a prĂĄtica de delitos de fraude, dispensas de licitação indevidas e peculato".

Por falta de provas, o ministro recusou a abertura de ação penal em relação a dois denunciados, incluindo o atual chefe da Casa Civil do Amazonas, FlĂĄvio Cordeiro Antony Filho.

Entenda

Em abril, a PGR apresentou denĂșncia, assinada pela subprocuradora-geral da RepĂșblica Lindôra AraĂșjo, contra o governador e outras 15 pessoas, incluindo o vice-governador, Carlos Almeida, e o secretĂĄrio de SaĂșde à época dos fatos, Roberto Tobias. Além de participação em organização criminosa, os envolvidos foram acusados de fraudes em licitação e peculato, no caso de agentes pĂșblicos.

De acordo com a peça de acusação, o governo estadual comprou os 28 respiradores por 2,9 milhões de uma importadora de vinhos dois dias depois de ter recebido uma proposta de venda dos mesmos aparelhos por 2,4 milhões de uma outra empresa do setor de saĂșde.

Segundo a denĂșncia, a importadora de vinhos comprou os aparelhos poucas horas antes de vendĂȘ-los ao governo, servindo apenas como intermediadora para elevar o preço dos equipamentos. A manobra teria resultado no desvio de R$ 496 mil.

O preço dos respiradores, contudo, jĂĄ se encontrava superfaturado, argumentou a PGR. Segundo os investigadores, que se valeram de pareceres do Tribunal de Contas do Amazonas, o sobrepreço teria resultado num prejuĂ­zo superior a 2 milhões aos cofres pĂșblicos estaduais.

Ao final, os equipamentos sequer serviram para tratar pacientes com covid-19, pois não seriam adequados para o tratamento de casos graves, destacou a denĂșncia.

Defesa

Na manhã desta segunda-feira, os ministros do STJ ouviram 17 diferentes advogados em defesa dos denunciados. Todos argumentaram inépcia da denĂșncia, que teria sido falha ao apresentar atos individualizados ou provas de conluio envolvendo a compra dos respiradores.

Segundo os advogados, apesar de quebras de sigilo telefônicos, a PGR não teria sido capaz de apontar atos inequĂ­vocos que apontem a existĂȘncia de uma organização criminosa.

O advogado Nabor Bulhões, que representa o governador Wilson Lima, acusou o Ministério PĂșblico de ter abusado de seu poder investigatório, promovendo uma narrativa sobre organização criminosa a partir de supostas irregularidades num simples processo de dispensa de licitação.

"Para investigar suposta irregularidade na dispensa de licitação na aquisição de 28 equipamentos pulmonares, a PF jĂĄ cogita da existĂȘncia de suposta organização criminosa voltada para dispensa de licitação. Isso é absolutamente ilógico, absolutamente inadmissĂ­vel. É absurdo, teratológico", disse Bulhões.

O defensor acrescentou que "não hĂĄ verdadeiramente na denĂșncia qualquer descrição das circunstâncias elementares que indiquem organização criminosa".

Em nota, o governador declarou que nunca recebeu qualquer benefĂ­cio e que as acusações não tĂȘm fundamento.

"As acusações contra mim não tĂȘm fundamento e tampouco base concreta, como ficarĂĄ provado no decorrer do julgamento. Nunca recebi qualquer benefĂ­cio em função de medidas que tomei como governador. A acusação é frĂĄgil e não apresenta nenhuma prova ou indĂ­cio de que pratiquei qualquer ato irregular. Agora terei a oportunidade de apresentar minha defesa e aguardar, com muita tranquilidade, a minha absolvição pela Justiça. Tenho confiança na Justiça e a certeza de que minha inocĂȘncia ficarĂĄ provada ao final do processo", declarou.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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