Ingresso da União como assistente durante tramitação do processo no STJ impõe mudança de competĂȘncia para a JF

Por Redação em 07/04/2022 às 08:36:39

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) concluiu, por maioria, que o ingresso da União no processo como assistente simples faz com que a Justiça Federal passe a ter competĂȘncia para novo julgamento de embargos de declaração, mesmo que o julgamento anterior tenha ocorrido na Justiça estadual. No caso analisado, o ingresso da União ocorreu quando o processo jĂĄ estava no STJ.

A decisão foi proferida em embargos de divergĂȘncia interpostos no âmbito de uma demanda que tem como pano de fundo a condenação da Petrobras Distribuidora S/A (conhecida como BR Distribuidora, hoje privatizada e com outro nome), pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), ao pagamento de indenização bilionĂĄria a uma rede de postos de combustíveis, em ação declaratória de extinção contratual combinada com indenizatória. Os valores estimados da condenação vão de R$ 2 bilhões, segundo a União, a R$ 8 bilhões, de acordo com os autores da ação.

Com a decisão dos embargos de divergĂȘncia, a Corte Especial determinou o envio dos autos ao Tribunal Regional Federal da 3ÂȘ Região (TRF3) para proceder a novo exame dos embargos de declaração da BR Distribuidora, que haviam sido rejeitados pelo TJSP.

O caso chegou ao STJ por meio de recurso especial no qual a BR Distribuidora alegou violação do artigo 535 do Código de Processo Civil de 1973 (artigo 1.022 do CPC/2015) por parte do TJSP. Só após a instauração da competĂȘncia do STJ foi que a União manifestou interesse em atuar na causa, na qualidade de assistente simples. Levado a julgamento na Quarta Turma, o recurso da BR foi provido, determinando-se o retorno dos autos ao TJSP.

Precedentes reconheceram competĂȘncia da Justiça Federal

A União, então, opôs embargos declaratórios com o pedido de deslocamento do processo para o Tribunal Regional Federal da 3ÂȘ Região (TRF3) devido à alegada competĂȘncia absoluta da Justiça Federal, a partir do momento de sua intervenção nos autos.

Com base na regra da perpetuatio jurisdictionis, a Quarta Turma entendeu ser aplicĂĄvel o artigo 43 do Código de Processo Civil de 2015 e negou provimento aos embargos de declaração da União. Para o colegiado, se as decisões de mérito foram proferidas pela Justiça estadual, não seria possível submetĂȘ-las a uma revisão da Justiça Federal.

Nos embargos de divergĂȘncia apresentados à Corte Especial, a União sustentou que a decisão da Quarta Turma divergiu de posição adotada pela Segunda (REsp 556.382) e pela Terceira Turma (REsp 843.924), as quais, em situação semelhante, remeteram os autos à Justiça Federal em razão da admissão da União como assistente simples.

Em determinação monocrĂĄtica, o relator dos embargos de divergĂȘncia, ministro Francisco Falcão, autorizou o processamento do recurso apenas em relação ao paradigma da Segunda Turma, por não integrar a mesma seção que a Quarta Turma, autora do acórdão confrontado.

Constituição prevĂȘ competĂȘncia federal diante de interesse jurídico da União

No julgamento da Corte Especial, Francisco Falcão afirmou que a competĂȘncia absoluta da Justiça Federal nas causas em que a União for interessada como autora, ré, assistente ou oponente tem previsão expressa no artigo 109, I, da Constituição Federal.

Em seu voto, ele explicou que a participação da União como assistente simples difere da modalidade de intervenção anômala no processo – prevista no artigo 5Âș, parĂĄgrafo único, da Lei 9.469/1997 –, hipótese que não configura causa para o deslocamento da competĂȘncia para a Justiça Federal, segundo o entendimento do STJ, por não exigir a presença de interesse jurídico.

Por outro lado, continuou o relator, a assistĂȘncia simples exige o interesse jurídico da União na causa, o qual ficou demonstrado diante do risco que a confirmação da condenação poderia representar para a continuidade do abastecimento de combustíveis no país, "considerado de utilidade pública, conforme o parĂĄgrafo 1Âș do artigo 1Âș da Lei 9.847/1999". Para Falcão, a recente privatização da empresa "não tem o condão de desconstituir tal interesse".

Além disso, observou o magistrado, a competĂȘncia absoluta da Justiça Federal se impõe mesmo diante da natureza integrativa dos embargos de declaração. "Não hĂĄ vedação a que a integração se dĂȘ por órgão diverso, vez que não se estĂĄ a conferir qualquer competĂȘncia revisional à Justiça Federal em relação à Justiça estadual", declarou.


Fonte: STJ

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