Rezek diz que paĂ­s estĂĄ "fraturado" mas vĂȘ instituições agindo com "galhardia"

Por Redação em 28/08/2021 às 12:40:34

O ministro aposentado Francisco Rezek afirmou que o Brasil estĂĄ "fraturado", com estranhamento e polarização exacerbada na sociedade, e que o Supremo "é uma das vĂ­timas desse flagelo". Em entrevista ao podcast "Supremo na semana", publicada neste sĂĄbado (28), ele afirmou, no entanto, que as instituições brasileiras estão enfrentando o momento atual "com bastante galhardia".

Rezek, que foi nomeado ao STF duas vezes - entre 1983 e 1990 e entre 1992 e 1997 -, foi ministro das Relações Exteriores e juiz da Corte de Haia, afirmou que o Supremo exerce "com absoluta independĂȘncia" as competĂȘncias que lhe foram dadas pela Constituição de 1988.

"A Constituição de 88 deu à Justiça, de um modo geral, aos operadores do Direito de um modo ainda mais geral, mas especialĂ­ssimamente ao Supremo Tribunal Federal, um poder sem parelho no espaço e no tempo. Nenhuma outra Constituição, em parte alguma do mundo e em momento algum da história, deu tamanho poder à Corte Suprema quanto a Constituição brasileira de 88 no que ela seguiu a trilha das suas antecessoras, apenas foi um pouco mais longe. O Supremo exerce o poder que a Constituição lhe deu, exerce as competĂȘncias jurisdicionais que a Constituição lhe confiou e exerce essas competĂȘncias com absoluta independĂȘncia e sem nenhuma espécie de medo de que o exercĂ­cio da sua competĂȘncia constitucional possa trazer qualquer consequĂȘncia negativa, nefasta ao Tribunal", avaliou.

Segundo ele, porém, o paĂ­s estĂĄ "fraturado", o que reflete sobre todas as instituições. "O Brasil vive, nos Ășltimos anos, uma situação de fratura em que as pessoas se estranham e se hostilizam. Amigos de infância não se reconhecem, pessoas às vezes da mesma famĂ­lia, da mesma confraria não mais convivem em paz e não conseguem, sequer, dialogar civilizadamente sobre a situação polĂ­tica do paĂ­s. É claro que uma fratura deste tamanho em toda a sociedade brasileira produz as suas consequĂȘncias sobre todas as instituições, entre elas, o Supremo. De modo que o Supremo, hoje, é uma das vĂ­timas, é um dos pacientes desse flagelo."

O ministro disse não considerar que o STF extrapole suas competĂȘncias.

"O Supremo é frequentemente acusado de exorbitar, de usurpar poderes legislativos do Congresso e de governança do Poder Executivo, e isso não é verdadeiro até porque o Supremo não vai atrĂĄs de fazer o que quer que seja. Ele é procurado com insistĂȘncia pelos dois outros lados da Praça dos TrĂȘs Poderes e é sob injunção, sob pedido, sob sĂșplica desses outros dois Poderes que, a todo momento, ele é levado a tomar as suas decisões."

Rezek, porém, defende que para se fortalecer o tribunal busque reduzir a quantidade de decisões individuais e decida, sempre que possĂ­vel, com consenso. "O paĂ­s inteiro gostaria que aqui, como acontece nos Estados Unidos da América, a Corte Suprema tomasse decisões coletivas e, de preferĂȘncia, decisões por consenso. O Tribunal dividido por 6 contra 5, 5 contra 4, como acontece com alguma frequĂȘncia, é algo que o torna extremamente vulnerĂĄvel. Até porque os erros mais graves que o Supremo cometeu nos Ășltimos 50 anos foram cometidos por maioria e quase sempre por maioria difĂ­cil, justamente 6 a 5, 5 a 4."

O ministro aposentado completou ainda que, na avaliação dele, as instituições estão enfrentando os sobressaltos vivenciados, o que descarta possibilidade de quebra da normalidade institucional.

"Eu acho que as instituições, com todas as dificuldades que estão enfrentando, enfrentam com bastante galhardia, me refiro a decisões recentes, por exemplo, do Supremo sem dĂșvida alguma e o tempo todo, mas do presidente do Senado. Mesmo dentro do governo vocĂȘ presencia algumas tomadas de posição bastante sensatas, de modo que não dĂĄ para ter medo, não dĂĄ para recear com muita lógica, com muita razão, a perspectiva de uma quebra da normalidade constitucional do paĂ­s. Esse medo eu não tenho. O medo que tenho é de que a crise sanitĂĄria, a crise econômica, a crise brutal que isso faz repercuta na educação dos nossos jovens."


Fonte: STF

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